sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Parabéns, sol da minha vida!

Três da manhã. Viro para um lado, viro para o outro e não consigo voltar a pegar no sono. Uma dorzinha chata nas costas, depois no fundo da barriga, não mata mas mói, espero que passe depressa para voltar a dormir. Amanhã à noite de certeza que não vou conseguir adormecer, a ansiedade vai ser mais que muita, no dia seguinte terei de dar entrada na maternidade para me ser provocado o parto, já passou uma semana do término da gravidez, e não há meio de o bebé se decidir.


Bem tento adormecer mas a dor vai-se intensificando. Depois desaparece, volta mais tarde.... CONTRAÇÕES!!!!! Será que é desta???? Parece que sim, vão ficando mais e mais frequentes. Levanto-me e vou dizer ao meu marido, que ainda há pouco voltou do trabalho e que ainda nem se deitou, que está na hora. Acordo a minha mãe que veio cá passar uns dias para nos ajudar nos primeiros dias, vou tomar um duche (que me sabe pela vida...) e seguimos para a maternidade do Hospital Dona Estefânia. Tudo tranquilo, sem stress. Muito perto de lá, reparamos que estamos a ser seguidos por duas motas da polícia. Parámos em frente à urgência e eles param atrás de nós. Eu saio do carro, eles olham (vêem o barrigão) e vão embora. Ok, devemos ter entrado em alguma rua de trânsito proibido ou só permitido a transportes públicos, ou coisa do género, porque a velocidade essa nem era muita...

Chegada à urgência espero pacientemente a minha vez (tão pacientemente quanto possível devido às contrações, quem já passou por elas me perceberá certamente...), sou chamada, examinada e informada de que vou ser internada apenas para não estar a fazer viagens em vão porque o bebé não nascerá antes do final do dia (são cinco e tal da manhã por esta altura...)

Passo por aquelas coisas menos simpáticas como a depilação (por mais que se tente ir nos conformes, arranjam sempre algum pelo para tirar...), o raio do clíster, mas depois de suportar o doloroso toque, já nem isso me desanima. Visto a batinha nada composta e toca de apanhar o elevador para a suite que me acolherá nas próximas horas.



Por ser de madrugada, e ainda por cima tendo sido informados de que o bebé não nasceria antes do final do dia, não apressamos a família, apenas lá estávamos nós e a minha mãe. O meu marido, companheirão, mesmo sem dormir, não arredou pé, saía apenas uns minutinhos para apanhar ar. Estávamos calmos, ansiosos mas calmos, mas parecíamos ser os únicos, ouvíamos imensos gritos das outras parturientes. As contrações continuavam, não demasiado próximas, e a dilatação também seguia o seu curso normal.

Não eram muito próximas, mas eram dolorosas até mais não. Cada vez que a coisa ficava negra, fechava os olhos e concentrava-me na respiração. A coisa parecia resultar, a tormenta passava e vinha a bonança. A dada altura, o meu marido diz-me, ao ver-me de olhos fechados, "não adormeças". Era o mesmo que adormecer enquanto somos violentamente espancados... impossível! 

Lá mais para o final da manhã decidem que está na altura da epidural, se eu pudesse, essa teria sido a altura em que me tinha ajoelhado e beijado o chão que a anestesista tinha pisado.



Sou, no entanto, avisada, que a coisa ainda está para durar. A enfermeira que me vem colocar a algália e que já tinha estado connosco algum tempo antes, pergunta se tinha feito curso de preparação para o parto. Respondo que não, mas que já vi muitos filmes. Responde que estava admirada com o controlo que eu conseguia ter perante a dor, porque tinha visto que as contrações eram muito intensas.

Naquela altura, já de epidural no lombo, o sofrimento está um pouco mais atenuado. De repente, sinto uma pressão enorme, deduzo que o meu rapaz está a tentar ver a luz do dia pela primeira vez. A enfermeira não parece acreditar muito em mim, mas lá vai, relutante, chamar a médica para me examinar. Pedem ao meu marido para sair para o corredor por uns instantes, para verem em que ponto da situação estamos. De repente, só oiço pessoas a gritar à minha volta que o bebé está a nascer, carrinhos de instrumentos a aproximarem-se da cama, sobem uma grade à minha frente para eu me poder agarrar e fazer força. Lembram-se que o futuro pai ainda está no corredor e vão a correr chamá-lo porque sabem que ele não quer perder o grande momento.

Faço força duas vezes, agarrada com quantas forças tenho à grade. Da minha boca não sai um único som, mas o meu marido conta que pela minha cara parecia que a ia entortar. Preparava-me para fazer força uma terceira vez quando a médica me desse ordem, mas ela diz: "Olhe para baixo, já nasceu!" E aqui é a hora em que as palavras me falham porque é indescritível o momento em que vemos um filho acabado de nascer de dentro de nós, que carregamos nove meses (e uma semana!) com o maior carinho e cuidado e que amamos acima de todas as coisas desde que fizemos aquele teste de gravidez às 4h30 da madrugada...



O pai fez as honras e cortou o cordão umbilical, o pediatra presente certificou-se de que tudo estava bem com ele e depois de muitos beijinhos, levaram-no para limpar, enquanto a médica ficou com a árdua tarefa de me 'remendar'. Por essa altura tive um ataque de riso (as pessoas normais choram de emoção, eu tive de me rir a bandeiras despregadas...), tão forte que a médica avisou: "Se não pára de rir não a posso cozer, e depois de passar o efeito da anestesia, vai doer mais...". Controlei-me, continuei a rir por dentro.

E foi assim que o bebé que só era para chegar ao final do dia, nasceu às 12h57. E fez com que, há dez anos atrás, eu tivesse o dia 26 de agosto mais animado da minha vida. 

Meu filhote, minha coisa mais linda que me iluminas com as tuas gargalhadas, me inundas com os teus sorrisos e me deixas desarmada com esses olhos cheios de ternura... FELIZ ANIVERSÁRIO!!!!! E papá do meu filhote mais querido, obrigada por me dares o mais belo presente da minha vida!       
      

                     
                    


3 comentários:

  1. Adorei a descrição, que coisa linda e um momento tão único <3
    Parabéns ao filhote!
    Beijinhos

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    1. Muito obrigada Tânia, é realmente o momento das nossas vidas ;)

      Beijinhos

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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Muito obrigada pelo seu comentário, vou ler com toda a atenção e responder aqui no post :D Se tem um blog, não se esqueça de deixar o endereço, quero muito conhecê-lo ;)